Uma crônica que escrevi alguns meses atrás, para uma aula de português, achei que seria interessante compartilha-la com vocês, já que agora ela não me serve pra muita coisa mesmo.
É interessante o que se pensa enquanto espera o ônibus. Olho todas aquelas pessoas indo e vindo, sempre com pressa, sempre com ar de cansadas. Um casal de namorados se beija num canto. Será que os pais deles sabem o que estão fazendo? O ônibus finalmente chega e todos os que esperavam embarcam. Consigo um lugar para sentar, na janela, em um dos últimos pares de poltronas. Olhando a paisagem, continuo pensando, analisando e refletindo sobre o que vejo.
Curioso como as pessoas se acostumam com a rotina, com os ônibus lotados, com as casas inacabadas e cheias de “puxados” e os esgotos a céu aberto. Impressionante o fato das pessoas se acostumarem com os engarrafamentos diários, com o ar poluído que são obrigadas a respirar, com toda manipulação ideológica que é feita pela mídia, formando cidadãos padrão e pacíficos, ou melhor, passivos. O mais assombroso não é nem se acostumar, mas sim se conformar, mas todos sabem que não há outra saída.
O casal que antes se beijava agora começa a discutir. O ônibus sai do engarrafamento habitual, mas logo entra em outro, que não devia estar lá. Olho pela janela e posso ver o ocorrido: um acidente grave. A alguns metros, ainda avisto um corpo coberto por um lençol velho e encardido. Já não deveriam tê-lo retirado? Porque será que as pessoas se acostumam a dirigir bêbadas?
Depois de muitos quilômetros de viagem, o ônibus para em uma das partes mais pobres da cidade, onde desce quase metade dos passageiros. Os rostos de quem sai parecem muito cansados e desgastados, não só fisicamente, mas também psicologicamente. As casas que cercam a rua, todas muito pobres e mal feitas, fruto da engenharia de baixa-renda. As ruas perpendiculares à que o ônibus passa não são asfaltadas, porém cheias de retratos sorridentes com números embaixo. Ano de eleição é assim mesmo.
Começa a chover e todos logo ficam apreensivos com o risco de alagamentos ou desmoronamentos. O ônibus para em um lugar escuro e sujo, uma mulher, carregando em um braço várias sacolas e no outro um bebê recém nascido tenta descer. Um homem vem logo atrás e tenta ajudá-la. Apesar de serem estranhos um ao outro, ele se preocupa e ela confia nele e entrega as sacolas com um sorriso grato no rosto. É claro que ela corre o risco do homem sair correndo com todas as sacolas no momento em que descerem do ônibus, mas faz bem acreditar na bondade alheia.
Penso em tentar olhar as estrelas. É tão reconfortante ver seu brilho depois de um dia cansativo e frustrante, mas me recordo de que está chovendo. Meu ponto chega e, enquanto desço da condução, ainda posso ver a garota do casal encostada no ombro do namorado, dormindo profundamente. Ele olha pra mim com um ar solitário e vazio. Tenho que parar de perder tempo com essas distrações inúteis. Ando rápido pelas ruas escuras, que à noite se tornam mais perigosas, e meus pés afundam na lama. É um alívio poder chegar em casa vivo, descansar e se preparar para mais um dia estressante de engarrafamentos, ônibus super lotados, frustrações e falta do brilho de estrelas.
É a vida! Não é assim que falam? Como mudar tudo isso? Impossível, será? Me pergunto, por que não organizar tudo, mesmo na simplicidade? Por que esperam vir tudo abaixo, pessoas morrerem soterradas, afogadas, atropeladas .............
ResponderExcluirNossa, o mundo é cruel! Mesmo não sendo pessimista, muito pelo contrário, eu fico pasma e entristecida. E penso, como será o mundo para nossos filhos e netos? Dá para imagninar, não é?
Beijos.